FILOSOFIA
DA RELIGIÃO
Ao
iniciar o estudo FILOSOFIA DA RELIGIÃO, buscamos a definição etimológica da
palavra “religião’. Este termo surge na história da humanidade através dos
autores clássicos, como Cícero, Lactâncio e o próprio Agostinho, respectivamente,
nas palavras “re-legere”, que significa reler, re-ligare, que significa religar
e re-eligere, que significa reeleger. Todos estes conceitos dão a idéia de
voltar a uma situação anterior, ou seja, ligar novamente a criatura ao Criador.
É exatamente esta tentativa de re-ligar-se com o Ser Superior, através de um
conjunto de crenças, normas, ritos ou costumes, que dá origem às diversas
religiões e ao fenômeno religioso propriamente dito.
Sendo
assim, a religião surge da necessidade do ser humano religar-se com o Divino, o
Eterno.
Hilton
Japiassú, em seu
Dicionário básico de filosofia, define a religião com um
conjunto cultural su7scetível de articular todo um sistema de crenças em Deus
ou num sobrenatural e um código de gestos, de práticas e de celebrações
rituais, admite uma dissociação entre a “ordem natural” e a “ordem sacra” ou sobrenatural. Acrescenta, ainda, que toda religião acredita
possuir a verdade sobre as questões fundamentais do homem, mas apoiando-se
sempre numa fé ou crença. Estabelece, ainda, a diferença entre religião e
filosofia, pois esta pretende fundar suas verdades ou tudo o que diz, nas
demonstrações racionais. A religião aceita as verdades como questão de fé, a
filosofia pretende demonstrar racionalmente.
O
sagrado, de natureza divina, possui um elemento divino, e por este motivo, deve
ser adorado e respeitado; é objeto de culto e veneração, inspira respeito e é
digno de reverência.
Na
busca de uma explicação para esta necessidade que o homem tem de religar-se ao Ser
Supremo, encontramos uma afirmação de Cícero, Senador romano, e que confere à
religião uma importância fundamental na vida da humanidade: ”Não há povo tão
primitivo, tão bárbaro, que não admita a existência de deuses, ainda que se
engane sobre a sua natureza.”
Fica
claro, pois, que o fenômeno religioso faz parte da história da humanidade,
desde os tempos mais remotos até a modernidade. É um fenômeno universal,
individual, cultural e social.
A
pluralidade religiosa é, em parte, resultado das diferentes formas de entender
e perceber o mundo e o próprio Homem. Ou seja, é a visão de Homem e mundo dos
povos e culturas que definirá suas crenças, costumes e religiosidade. Por isso,
a história da humanidade se confunde com a história da religião dos povos. Fala-se
em cultura religiosa porque se entende que as duas palavras estão diretamente
relacionadas entre si.
Como
já dissemos, a religião é parte do sistema de vida de um povo. Enquanto cultura
envolve não só a crença, mas também as condutas.Entende-se por cultura o
conjunto de modos de fazer, interagir e representar desenvolvimento pelos
homens com uma solução ou resposta para as necessidades de sua vida em comum. E a religião é uma
dessas formas. Entende-se, pois, a religião como um processo social de construção
de concepções de Deus. A religião é, pois, algo intrínseco à vida de um povo.
Todas
as religiões, por mais racionais e lógicas que se apresentem, se assentam na fé
das pessoas apesar do objeto da fé ser diferente de religião para religião.
Aqui é importante distinguir a fé do mito, que se apresenta como coisa
descabida, fantasiosa e contrária à própria natureza racional do ser humano.
As
diferentes religiões podem ser classificadas como:
Primitivas:
primeira forma de expressão religiosa. São religiões onde o culto aos deuses é
realizada de forma acrítica e pré-reflexiva. A forma de adoração é de alto teor
mágico e mistério. Ex: animismo, magismo, umbanda.
Sapienciais:
religiões que se fundamentam na sabedoria, na busca pelo conhecimento. Destaca-se
pela meditação, pela busca da sabedoria, a busca pelo sentido da vida e a
contemplação. Buscam um ideal ético e uma sabedoria prática para a vida. Ex:
hinduismo, budismo, confucionismo, taoísmo e xintoísmo.
Proféticas
ou reveladas: surgem a partir de uma profecia ou revelação. Partem do
pressuposto de que o se4r superior revela sua mensagem a si próprio e ao povo,
através dos profetas. Ex: judaísmo, cristianismo e islamismo.
Espiritualistas:
este grupo admite a influência de inúmeras forças espirituais, que agem tanto
sobre as pessoas como também sobre a natureza. Ex: espiritismo e umbanda
Místicas
ou filosofias de vida: são religiões, seitas ou grupos que não seguem uma
estrutura rígida. Buscam a fraternidade entre os homens, através de ensinamentos
ético-morais.Ex: yoga, maçonaria, seicho-no-iê, teosofia.
FORMAS
RELIGIOSAS
São
maneiras como as diferentes religiões se relacionam com o SAGRADO.
TEÍSMO: crê
que Deus é o único ser supremo, infinito, absoluto, espiritual e pessoal. É
criador e espírito vivificante. É Deus revelado. Age com e nas criaturas.
Divide-se em:
Monoteísmo: um só deus;
Politeísmo: acredita em vários
deuses;
Henoteísmo: acredita e cultua um só
deus, admitindo, no entanto, a existência de outros;
Panteísmo; acredita que tudo é deus.
O universo, a natureza e Deus são a mesma coisa.
Panenteísmo: acredita que tudo está em Deus. O mundo é modo de
existir de Deus.
Monismo: acredita que existe uma só
realidade, que é a do mundo material. O próprio mundo é absoluto e explica-se
por si mesmo. O conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade.
Dualismo: acredita na coexistência
de duas forças (princípios) superiores antagônicas, uma do bem e outra do mal,
que regem e dirigem o universo.
Deísmo: acredita na existência de um
único ser supremo, espiritual e pessoal, destituído de atributos morais e
intelectuais, que poderá ou não ter influído na criação do universo. Rejeita a
revelação divina e a intervenção de Deus na vida das pessoas.
Ateísmo: acredita que não há ser
superior. Não crê em Deus.
Animismo: acredita na vida
espiritual por detrás dos objetos sensíveis. Considera todos os seres da
natureza dotados de vida e capazes de agir conforme a finalidade. Os seres
sensíveis possuem vida, alma, psique, ou espírito, capaz de entrar em relação
direta, em certos casos e sob certas condições, com o Homem.
Magismo: acredita na ciência, arte
ou força oculta, impessoal, que excede às forças da natureza, com que se
pretende produzir por meio de atos ou palavras, efeitos e fenômenos extraordinários,
contrários às leis naturais. Tais pessoas são conhecidas como mágicas, pois
procuram captar estas forças e coloca-las à sua disposição.
Monismo: acredita que os deuses são
homens divinizados Por esta razão, cultivam as almas de defuntos. Oferecem
sacrifícios e prestam louvores e cultos aos mortos.
Totemismo: acredita em totem
(animal, vegetal ou outro objeto) que tenha sido símbolo de tribo dos antigos
ancestrais. O totem era o protetor e deus da tribo, que ditava os tabus e
deveres particulares.Totem significa, etimologicamente, tribo ou clã.
Gnosticismo: forma
filosófico-religiosa que visa conciliar todas as religiões e explicar-lhes o
sentido por meio da gnose (conhecimento), que são dogmas transmitidos pela
sabedoria e tradição.
As grandes religiões do mundo
Hinduismo
De todas as
religiões, possivelmente, o hinduísmo em razão de sua diversidade.ou seja a
mais difícil de descrever resumidamente em razão de sua diversidade. Embora
possua uma tríade de grandes deuses – Brahma, o Criador; Shiva, o Destruidor, e
Vishnu, o Conservador, o hinduismo pode ser um agnóstico, panteísta, monoteísta
e até um ateísta. A única regra universalmente aceita pelo hindu é a de seguir
as normas de sua casta na expectativa de um futuro feliz para si mesmo.
Estima-se que tenha surgido por volta de 1500 a.C. resultado da invasão da Índia pelos
arianos indo-europeus. O sistema religioso é organizado em torno de quatro
escritos sagrados, conhecidos com Vedas.
O Código de
Manu, uma coleção de preceitos morais diz que todo hindu pertencente a uma das
primeiras quatro grandes castas que formam a sociedade, surgiu do corpo do
Criador Brahma. Em razão disso, não pode misturar-se com alguém de outra casta,
devendo as castas manterem-se separadas, sem interação nenhuma do nascimento à
morte. A transmigração da alma é uma das crenças.
Espiritismo
Embora
o espiritismo tenha surgido no século 19, alguns de seus pressupostos básicos
como a rerencarnação, o carma e a pluralidade dos mundos são encontrados já no
hinduísmo primitivo.
Sistematizado
por Allan Kardec, o espiritismo inova o entendimento de Homem a partir de uma
visão tridimensional:
o
corpo- sem valor em si mesmo, é parte menos nobre e só adquire valor na medida
em que possibilitar ao espírito uma relação com o mundo exterior;
a alma ou
espírito- uma criação divina e princípio inteligível, no qual residem o
pensamento, a vontade e o senso moral;
o perispírito-
é a condensação de um fluido universal, normalmente invisível, que possibilita
e explica as aparições nas sessões espíritas. É como se fosse um envoltório do
espírito, necessário para a união corpo-espírito, não sendo, por isso, nem só
material, nem só espiritual.
O mundo é
concebido em dois planos: o material, onde habitam os vivos e o espiritual,
onde habitam os mortos, onde ficam os espíritos desencarnados à espera da
reencarnação.
Budismo
O budismo
começou no século 6 aC.
Como dissidência do hinduísmo nas proximidades do Himalaia e seu fundador foi
Siddarta Gautama, o Buda. Baseia-se nos oito caminhos::fé justa, resolução
justa, palavra justa, conduta justa,esforço justo, pensamento justo, ocupação
justa e meditação justa. Com isso, alcança-se o estado de nirvana que é o
estado mental livre de paixões. Buda anulou o sistema de castas.
Gautama
não acreditava num ser supremo, não via importância no ato de orar, aceitava a
crença na transmigração da alma e na Lei do Carma.
Os
diversos grupos de budismo podem ser reconhecidos a partir de cinco categorias:
-as
seitas da terra pura: o objetivo último é atingir o paraíso;
-as
seitas dos intuitivos; perseguem os benefícios da contemplação, vivendo-se vida
simples e autodisciplinada;
-as
seitas racionalistas: utilizam-se do processo sincrético, alegando que não há
apenas um caminho a ser observado;
-as
seitas da palavra pura: depositam a fé num salvador;
-as
seitas sociopolíticas: desenvolvem, como no Japão, um forte sentimento
nacionalista.
Taoísmo
O
taoísmo, religião da China, consiste basicamente numa idéia filosófica
superposta a crenças antigas. A base desse sistema repousa em crenças chinesas
antigas que acreditavam na harmonia fundamental dos espíritos e objetos
materiais e em modos de energia denominados Yang e Yin. O Yang é caracterizado
pelo quente, criativo e masculinizado; o Yin, pela frieza, negatividade e
feminilizada. Tudo tem características de Yang e Yin, superpondo-se em sucessão
infinita com base na energia cósmica. O Tão é literalmente traduzido como o
CAMINHO.
O taoísmo se desenvolve em três
fases: a primeira é filosófica e começa com Lao-Tsé (604 a.C.); a segunda, com
Chuang-Tsé, da filosofia do “não faça nada”; na terceira fase, o taoísmo
tornou-se religião.
Confucionismo
O
confucionismo é simples de descrever. Os
ensinamentos de Confúcio são relativamente diretos e claros por duas razões:
por um lado, as informações sobre Confúcio como pessoa estão muito próximos de
lenda e, por outro lado, o seu ponto de vista prático simplifica os valores a
tal ponto que o sistema ainda permanece obscuro.
A
centralidade da filosofia de Confúcio pode ser resumida pelo uso da palavra
“li”. Por ela entende-se cortesia, reverência, ritos e cerimônias e o
posicionamento ideal da vida pública e privada. O chinês mais moderno entende
por “li” uma ordem social ideal com tudo em seu devido lugar e com todas as
pessoas prestando respeito e reverência aos outros na hierarquia social.O
confucionismo é racionalista, a ponto de entender que os rituais eram
atividades que serviam para estabilizar efeitos morais sobre as pessoas. Outra
característica é o sincretismo. Confúcio agrega os aspectos que lhe interessam
de outros movimentos.
Xintoísmo
O
xintoísmo é a religião popular do Japão; é uma religião peculiar por ser uma
expressão do amor japonês por seu país e suas instituições. O xintoísmo
primitivo via o Japão como a terra dos deuses, o que explica o caráter
nacionalista da religião.
Shinto, “o caminho dos deuses”,
pode ser descrito como um modo ideal de comportamento. O seu sistema ético
inclui preceitos: lealdade ao imperador, gratidão, coragem diante da morte, o
serviço aos outros está acima dos interesses próprios, a verdade, a polidez até
mesmo com os inimigos, controle das manifestações dos sentimentos e a honra,
que significa o ato de preferir a morte à desgraça.
Islamismo
O
islamismo, movimento religioso que congrega a nação árabe, é também conhecido
como maometismo. A origem do islamismo está fortemente vinculada à história
judaica, uma vez que é no judaísmo que se encontra a origem racial dos árabes.
No Antigo Testamento está registrado que Abraão, casado com Sara, não possuía
herdeiros, visto sua esposa não poder dar |à luz. Sensibilizada com a
possibilidade de Abraão não ser pai de uma grande nação, conforme Javé lhe
prometera, Sara dá a Abraão sua escrava Agar para que esta lhe gere um filho.
Dessa união, nasce Ismael. Após um tempo, Sara também dá à luz um filho, Isac.
Ismael passa a conviver com os nômades do deserto, daí surgindo a nação árabe.
Maomé congrega a nação árabe, junta às crenças árabes nativas, conceitos do
judaísmo e do cristianismo, daí surgindo o Corão, livro de preceitos a serem
seguidos.
A
mais importante formulação teológica do maometismo é o credo repetido
constantemente por seus seguidores: só Alá é deus e Maomé seu profeta. Os
rituais religiosos são compostos basicamente por cinco princípios, também
chamados de “Os cinco pilares: repetição constante da fórmula” só Alá...”;
fazer cinco orações diárias; dar esmolas aos necessitados; jejuar todos os dias
do amanhecer ao anoitecer no mês de Radamá; fazer uma peregrinação à
Meca,cidade sagrada.
Os
Xiitas, um ramo do maometismo, eram descendentes de Fátima, a filha de Maomé,
casada com Ali e acreditavam que o profeta viera do céu.
Cultos
afro-brasileiros
Trazidos
da África para o ocidente, no século 16 como escravos e impedidos de cultuarem
suas crenças, os africanos desenvolveram práticas sincretistas, absorvendo em
sua fé, elementos religiosos e interpretando-os conforme suas crenças
originais. Assim é que no Brasil os africanos incorporaram em suas crenças práticas
católicas romanas, indigenistas e até espíritas.Desse processo, emergiram
vários comportamentos chamados de cultos afro-brasileiros, destacando-se o
candomblé e a umbanda.
Judaísmo
A
história do judaísmo começa como do islamismo.A origem do judaísmo se
diferencia pela ida de Jacó, um dos filhos de Abraão ao Egito, onde seu filho
José já era primeiro-ministro do Faraó. Após a morte de José, o povo
descendente de Jacó e seus filhos foram oprimidos e escravizados. A libertação
se dá através de Moisés, o grande codificador do Judaísmo. Durante quarenta
anos, Moisés conduz os descendentes de Jacó pelo deserto até chegarem ao Monte
Sinai, onde recebem os Dez Mandamentos e as leis cerimoniais e civis a serem
observadas.
No decorrer de toda história, o
povo judeu desenvolveu a convicção de ser o povo eleito, o povo de Deus que
sempre dirigiu os seus escolhidos mesmo nos momentos mais críticos.
O
judaísmo é de fundamental importância para o cristianismo, pois este entenderá
que o Messias prometido aos judeus é Jesus Cristo que, na realidade, vem
estabelecer um reinado divino não terreno, mas espiritual.
Cristianismo
O
cristianismo tem sua origem no judaísmo com Jesus Cristo, verdadeiro Homem e
verdadeiro Deus, nascido em Belém da Judéia. O nascimento de Jesus dividiu a
história da humanidade em duas grandes eras: Antes de Cristo e depois de
Cristo. Cristo fez-se homem em nosso lugar para resgatar e salvar a humanidade.
Diz a Bíblia: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu ao seu Filho
Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna (João 3,16)”.
O
cristianismo e a revelação bíblica em geral têm sido questionados quanto ao
fato de serem ou não um autêntico humanismo em razão da grande ênfase dada ao
conceito de Deus. Para muitos, a figura de Deus simplesmente abafaria o ser
humano, tornando este um mero apêndice Dele. Para outros, o ser humano seria
tão negado nesse contexto do cristianismo que seria difícil ver esta doutrina
como humanista. Para outros, ainda, a doutrina cristã não passa de uma
alienação opressiva.
Entretanto, podemos afirmar que o
cristianismo mostra-se como autêntico humanismo, pois, com certeza, representa
a mais elevada forma e afirmação do ser humano. E, primeiro lugar, atesta que
Deus é o criador do Homem.
Nas
primeiras páginas da Bíblia, Deus é visto como o criador pessoal do ser humano.
O termo “pessoal” é aqui enfatizado em oposição ao conceito de criação
aristotélico, segundo o qual Deus cria o mundo por emanação, inconscientemente,
não tomando, pois, conhecimento dele, desconhecimento esse justificado, porque,
segundo a linha de pensamento de Aristóteles, Deus resume em si tanta perfeição
que é até mesmo incapaz de pensar o imperfeito.
Colocando-se
a idéia do Homem como interlocutor de Deus, enfatiza-se uma semelhança que,
incluindo em si própria a diferença, abre caminho para um encontro, encontro
para cima, que, por isso mesmo, se torna uma saída. O cristão, assim, pode
olhar para o totalmente outro com a certeza de que esse totalmente outro, que
não se confunde nem com a natureza humana e muito menos com a natureza em
geral, se acha totalmente voltado para o Homem. Comprova-se isso pelo fato de
Deus, conservando a sua natureza essencial, assumir em Cristo Jesus toda a
natureza humana, humana sobretudo no seu dispor-se para a limitação, a
fraqueza, a dor e a morte. Se, pois, Deus quer o Homem como seu interlocutor, e
o Homem perdeu a capacidade de elevar-se até ele, reenceta o diálogo justamente
onde o Homem se encontra: na miséria da existência humana. Se, na encarnação,
desce à miséria humana, o faz para o Homem subir a sua glória.
MARX, FREUD E NIETZCHE –
A
crítica do marxismo.
A
essência do homem marxista não comporta a realidade divina. Como ser de
necessidades(apenas materiais), o sujeito humano está vertido à natureza, seu
objeto de satisfação. Essa intencionalidade, porém, tornou-se abstrata e
alienou-se da natureza, devido à organização econômica nela introduzida pelo
sistema capitalista, perdendo-se então neste outro objeto – o dinheiro – que
não o naturalmente seu.
Na
sociedade capitalista, a natureza é de tal modo explorada que q sua
transformação não retorna ao homem que a transforma pelo trabalho, mas ao
senhor todo-poderoso do capital. Nesse contexto, nasce a religião, que é uma
alienação secundária derivada da alienação econômica fundamental. O homem, por
não conseguir realizar-se no mundo de sua vivência espontânea que transforma
pela mediação do seu trabalho, procura então transcender esse mundo do aqui e
agora para realizar-se num mundo divino, o do além: irreal e fictício. Assim,
Deus não é uma realidade intencional, exigida pela natureza humana, mas
alienação decorrente da situação econômica. Na vida do homem não há lugar para
experiência divina.
Nietzsche
e o conceito de Deus.
Nietzsche
não hesita em dizer que o conceito de Deus
foi criado como oposto ao conceito de vida; tudo o que há de novo, de
venenoso e difamatório e toda a hostilidade mortal contra a vida se acham
condensados nele, numa terrível unidade.
Nietzsche
considera que o cristianismo tem um efeito degenerativo, porque doma o espírito
e enfraquece a vontade de poder com a sua condenação do orgulho, da paixão, da
cólera, dos instintos de guerra e de conquista.
Para ele, o santo cristão é um
produto do medo do inferno e não do amor à humanidade. Apenas a vontade de
poder permite ao homem ultrapassar a si mesmo.
. Freud
e a religião
Freud
considera a religião uma neurose obsessiva a ponto de tirar do homem a
liberdade. Considera a fase infantil, isenta, livre, porque ainda não foi
introduzida em doutrinas religiosas. A parti do momento em que isso passa a
ocorrer, há retardamento do desenvolvimento sexual, uma vez que a religião se
baseia em proibições e culpas. Condena a substituição de substâncias curativas
por devoção. Entretanto, considera insensato tentar eliminar a religião pela
força, e de um só golpe, àqueles que a vêm praticando por dezenas de anos.Mas é
preciso “educar” os homens para a realidade, tirando-os dessa posição infantil.
É preciso que enfrentem o mundo hostil pelos seus próprios meios,
“Como
honestos arrendatários nesta terra, os homens aprenderão a cultivar seu terreno
de tal modo que ele os sustente. Afastando suas expectativas em relação a um
outro mundo e concentrando todas as energias liberadas em sua vida na terra,
provavelmente conseguirão alcançar um estado de coisas em que a vida se tornará
tolerável para todos e a civilização não mais será opressiva para ninguém.
Então, poderão dizer sem pesar:
Den himmel überlassen wir
Den Engeln und Spatzen.
Traduzindo:
Deixem
o Céu aos anjos e aos pardais.”
(in. Freud , Os pensadores, p.123)
Chegamos
ao fim de nossa pesquisa sobre Filosofia da religião sem, entretanto,
esgotarmos o assunto, quer pela profundidade que pela extensão do mesmo; apenas
colhemos os tópicos principais.
Referências
Os pensadores; Freud. Ed. Abril
Cultural – 1978
KUCHENBECKER, Valter e outros, O
homem e o sagrado. Editora da Ulbra.1996 RS
Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados , O homem em busca de Deus. SP, 1980
KUNZ,
Edmundo L.. Deus no espaço existencial; Ed. Sulina , Porto Alegre,RS 1975
JAPIASSÚ,Hilton
e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Jorge Zahar Editor,
RJ,1996
CHALITA, Gabriel.Vivendo a filosofia. SP:
Ática.2005